quinta-feira, 27 de março de 2014

Gastar à medida da bolsa e sentir a natureza

É lá em cima que recomendamos o repasto...
Chegávamos com medo do que íamos encontrar. As notícias de que o mar tinha dado cabo da paisagem como a conhecíamos eram muitas e recordações da infância, juventude e idade maior batiam forte num coração que temia a realidade. A ideia inicial não era parar no Angra. Era continuar viagem e um pouco mais acima, ver como estava a Adraga e por ali almoçar, num dos nossos restaurantes preferidos. Mas o que vimos na Praia Grande obrigou-nos a ficar mais algum tempo. A praia irreconhecível, o mar ainda a bater, rochas onde elas antes não existiam e um décimo da areia que antes pisávamos. Felizmente o sol brilhava nesse dia e ainda deu para descer com o mais novo à areia e com os outros dois passear, matutando um pouco sobre o que está a acontecer um pouco por toda a nossa costa.

Mas vamos ao que interessa. Na Praia Grande há cinco locais onde almoçar ou jantar sem grandes problemas. Desde o restaurante na encosta, para clientela mais endinheirada, passando pelo do Hotel Arribas, mas nós escolhemos quase sempre o mesmo: o Angra. Curiosamente, não é gastronomicamente o melhor no local. Noutro dia se falará dos outros. Mas tem coisas que os outros não têm e que tocam fundo cá no coração. Falamos dos vários mariscos e entradas, sim, mas ainda mais importante, do terraço no topo do restaurante, onde as imperiais e o vinho branco escorregam como se não houvesse amanhã. Infelizmente há e a idade hoje é outra, logo escorregam, mas pouco, que esse tal amanhã é outro dia.

Então escolhido o local e a mesa, bem lá em cima, cá fora se na primavera ou verão, lá dentro bem à janela se no inverno, vamos à papinha. E ali aconselham-se os mariscos de entrada. Mas não aqueles que se comem em todo o lado. Aproveite, gaste menos, e delicie-se com um mexilhões à espanhola feitos como deve ser, umas lapas grelhadas de comer e chorar por mais, uns burriés da costa, fresquinhos e gordinhos ou mesmo um caranguejos/navalheiras a saber a mar. Há, claro, as normais ameijoas à bolhão pato e as gambas, mas as primeiras, apesar terem vindo para a mesa nem as vi, as segundas já vamos evitando. Seguiu-se uma sapateira fresquinha, dos viveiros da zona e pode dizer-se que não desapontou. Casco bem preparado e carninha fresca. Pouco mais se pode desejar quando se recebe um bicho destes na mesa.

O barco encalhado que deu nome ao restaurante
É a partir daqui que se pode complicar a refeição no Angra. Porque a cozinha nem sempre é acolhedora e os petiscos que de lá chegam são irregulares. Já ali comi bem e comi mal. Por isso, se é segurança que procura, rume a outras paragens. Se ainda assim pretende continuar por lá mas a jogar pelo seguro, ataque um peixe grelhado fresquinho. Pode escolhê-lo na montra dos bichinhos apetitosos. Aí a felicidade é garantida. Se for corajoso, então  arrisque. Pode dar-se bem. E muito mal não há-de correr, mas pode haver pequenas deceções. Por isso prefiro não dar mais ajudas neste campo. Até porque, sendo sincero, a maior parte das vezes fico-me pelas entradas e mariscos, regadas com um Beira Mar fresquinho e um pão delicioso ali da zona.

Também há sobremesas mas parece-me que não acrescentam muito. Ainda assim, os miúdos não perdoam e costumam atacar galhardamente um cheese cake de frutos vermelhos e não se queixam. Nessa altura já costumo estar na água das Pedras e no cafezinho. Mas gosto muito de ali parar. Por tudo. Pelo ar que se respira também. E o Angra tem uma vantagem, pode gastar-se à medida da bolsa e usufruir de pequenos luxos pagando um pouco menos do que é habitual nestes locais. Experimente. Há riscos, mas para mim eles compensam. B.R.

Restaurante Angra

Av. Alfredo Coelho, n.º 57, 2705-329 Colares
Não encerra
Estacionamento: Não
Horário de Encerramento: 22:00
Lotação: 344
Necessidade de reserva: Aconselhável.
Preço Médio: 20 euros
Tipo de Restaurante: Português, Grill

Notas
Qualidade da refeição: 3/4
Serviço: 3
Preço: 3

sexta-feira, 14 de março de 2014

Comer direito... no Cu Torto

A sala de refeições mais aprazível do Moinho
Com honrosas excepções, sempre achei que a cada macaco o seu galho, o que transposto para a restauração significa, pelo menos na minha modesta opinião, que os rojões à minhota são bons é no Minho, as tripas à moda do Porto são no Porto, o peixe é em Setúbal (esta será a opinião menos consensual, mas voltarei ao tema para tentar prová-lo), o leitão é na Bairrada, os caracóis são na esplanada , as bolas de Berlim são na praia e por aí fora. Portanto, por esta ordem de ideias, a comida alentejana é no Alentejo. E que bons exemplos há por lá.
Fica a sugestão de um em Évora. Pode nem ser o melhor da região, mas, de certeza, é digno representante da gastronomia local. Falo do “Moinho do Cu Torto”, nome pitoresco para restaurante também patusco situado para os lados da zona industrial da cidade, já fora do centro, mas logo no início da viagem para quem vai, digamos, em direcção a Reguengos. Como o próprio nome indica, localiza-se num antigo moinho, embora não consiga explicar de onde vem o “cu torto”. Adiante.
Uma açorda alentejana de comer e chorar por mais
À entrada, um balcão, já com vários petiscos em exibição e, atrás, uma ardósia com muitos outros e respectivos preços. Depois, duas pequenas salas, uma interior, menos interessante, e outra, a principal, acolhedora, de aspecto rústico e com uma lareira ao fundo. Ambas decoradas com motivos campestres. Na carta, embora sem demasiadas sugestões, estão representados os principais ex-libris da cozinha alentejana.
Nesta última visita, a opção recaiu em duas deliciosas entradas: tomatada com ovos de codorniz e febras de coentrada (tirinhas fininhas de carne de porco, tenrinhas e sem um pingo de gordura, apenas a do azeite, com seus alhos e coentros). Depois vieram os pratos principais. Entre muitas e boas alternativas, apeteceram umas migas de espargos com carne do alguidar e ainda uma açorda alentejana com o respectivo bacalhau. Ambas excelentes e gulosas embora a última mereça dois reparos: o ovo devia estar menos cozido, para a gema se poder desfazer na água da sopa, e o pão devia ser fatiado e não em cubos. Mas isto são reparos de gosto pessoal. Não há uma maneira certa ou errada de apresentar uma açorda. Ela tem é de ser deliciosa e a deste Moinho era. E muito.
Carne do alguidar com migas de espargos...
Das sobremesas, também resultado do receituário tradicional alentejano, nada posso acrescentar, pois não as provei, mas, do que vi, tinham muito bom aspecto.
E pronto, a pouco mais de uma hora de Lisboa fica este retiro de bem comer à alentejana, onde apetece voltar com a possível frequência. L.M.

“Moinho do Cu Torto”
Rua Santo André, 2, (Bairro Senhora do Carmo)
7005-401 Évora
Telefone – 266771060
Cartões – aceita
Preço médio: 17,5 euros
Todos os dias até às 22h00 (fecha aos feriados)
Estacionamento – fácil

Notas (1 a 5)
Qualidade da refeição: 4
Serviço: 3
Preço: 3

quarta-feira, 12 de março de 2014

Sabores do Tejo em Abrantes

Sável frito com açorda de ovas é de comer e chorar por mais
Abrantes continua a promover os “Sabores do Tejo”. O Festival Gastronómico pretende salientar temáticas como o Peixe do Rio, as Migas e a Caça, que passam a ter lugar num período de 15 dias, nos meses de março, setembro e outubro respetivamente.

O “Sabores do Tejo – Peixe do Rio” vai realizar-se no concelho entre os dias 15 e 30 de março, em nove restaurantes aderentes: A Tasquinha D’Aldeia; Os Restaurantes S. Lourenço, Santa Isabel, Sabores da Cascata, A Cascata, O Ramiro e A Tulipa; A Cervejaria Aquapolis e o Hotel Segredos de Vale Manso.

Esta ação tem por objetivo preservar e promover a gastronomia tradicional de Abrantes, divulgando os seus múltiplos sabores, assim como dar a conhecer a singularidade da cultura gastronómica do concelho. Para além disso, segundo a organização, a ideia é reconhecer e incentivar à qualidade dos pratos a servir nos restaurantes. Visa ainda preservar e promover o património gastronómico abrantino e a sua cozinha tradicional, tendo por base os pratos de peixe, migas e caça.

Esta é uma iniciativa da Câmara Municipal de Abrantes, que pretende fazer deste evento uma referência regional na gastronomia e um dos fatores de atração turística. Conta para isso com o empenho e dedicação dos proprietários dos restaurantes aderentes que promovem nas suas ementas o que de melhor a gastronomia local tem, quer em peixe ou carne, nos acompanhamentos e produtos como o azeite, ou nos doces tradicionais e vinhos.

Deixem-me recomendar, porque conheço bem a região, dois pratos: Sável com açorda de ovas e Mista de peixe frito. Por ali é de comer e chorar por mais. Falaremos noutro dia dos melhores sítios para provar estas iguarias. B.R.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Aventura em Salonica

Uma das agradáveis salas de refeição
Não sei se o facto de Salonica ser a atual capital europeia da juventude é motivo suficientemente forte para mobilizar alguém a demandar o norte da Grécia, na fronteira com a Macedónia, mas se for aqui fica uma “dica” importante para quando chegar a hora de tratar do estômago ou simplesmente beber um copo com vista para o mar.
Numa prospeção completamente inopinada, à hora de almoço, fui dar à Avenida Nikis, a marginal de Salonica onde se junta a “beautiful people” local (bem, a “beautiful” e a outra, a feia) e, depois de andar umas boas centenas de metros, escolhi, com a ajuda de dois companheiros de viagem, a Garcon Brasserie, porque tinha o melhor ambiente – espaço, decoração, música e simpatia do pessoal que veio fazer o acolhimento.
Na Garcon existe esplanada e, para além da sala principal, no R/C, um piso superior mais recatado. Foi eleito o piso térreo para se verem as modas.
Quanto à comida, para entrada escolheu-se uma salada de verduras com queijo grelhado. Boa opção, esta variante da habitual salada grega, que às vezes enjoa com o seu feta de sabor muito intenso.
Uma refeição bem simpática em Salonica
Depois de preparados para um desafio mais exigente, fomo-nos a uma Tagliatta de Vitela, que não tem nada que ver com massas, pastas e afins. O prato consta de um naco de carne fatiada, acompanhado das nossas conhecidíssimas batatas com pele e uns legumes bem salteados, diga-se. Que bela surpresa para quem tinha dado um tiro meio no escuro!
Da cozinha sobrou, no entanto, um problema: a carne passou ligeiramente do ponto, o que a fez perder qualidades gustativas, mas, enfim, a jornada era de descoberta e esse pormenor não bastou para a liquidar. De resto, a apresentação estava tão apelativa que outros portugueses vieram pedir-nos o nome do prato para repetir a encomenda.
A finalizar, um gelado. Bem bom, diga-se.

No acompanhamento da função esteve um tinto que o chefe de sala garantiu ser de casta local, greco-macedónia, portanto, assim entre o merlot e o cabernet, sei lá. Bebeu-se bem.

Resumindo e concluindo, se alguém for a Salonica aventure-se na Avenida Nikis, a Garcon Brasserie não desiludirá, mais que não seja pela música e o ambiente selecto. A.V.

Garcon Brasserie
Avenida Nikis
Salonica
Grécia
Telefone - 2310 253033
Preço médio – 35 euros
Não aceita cartões
Estacionamento – público, muito difícil

Notas (1 a 5)
Qualidade da refeição: 4
Serviço: 4
Preço: 2

sexta-feira, 7 de março de 2014

Um chinês à antiga portuguesa

O pato lacado é uma das iguarias da casa...
Se na juventude frequentou daqueles chineses que abundavam por Lisboa em que a comida nada tinha de chinês mas sabia bem que se fartava e tem saudades de ver um em cada esquina desde que a ASAE lhes arruinou a reputação, o Mesa para 3 dá-lhe um passaporte para o céu (É um exagero, mas é bom, a sério). Chama-se Nova Ásia, fica no muy agradável bairro de Alvalade e come-se bem e barato. Sim, é verdade, são duas palavras que não se devem usar juntas a não ser que seja mesmo verdade. Mas neste caso, é. Mesmo.
A ementa não tem segredos. É igual a todos os restaurantes chineses que adaptaram ao palato nacional o uso dos ingredientes da comida asiática. E por isso não precisa de se aventurar muito para comer bem. Há aqui um prato que merece destaque especial, sim, mas já lá vamos mais tarde. Agora é tempo de comer uns crepes finos e bem fritos, sem pingo de gordura e com as verduras a gritarem frescura. Depois, se gosta de continuar nas entradas, nada como a Van-Tan frita. O mesmo trunfo dos crepes em relação à fritura com um sabor leve e agradável a que os meus miúdos dizem “quero mais” a uma velocidade estonteante. Se não gosta destas coisas, há sempre umas simples mas adoráveis amêndoas torradas, que chegam quentinhas e com uma Tsin-Tao fresquinha (cerveja chinesa) marcham que nem ginjas.
O que mandar vir a seguir? A lista é longa e o risco mínimo. A grande vantagem deste restaurante sobre outros do género é que não se exagera nos molhos e escapa-se facilmente aos rios de gordura. Por isso um clássico Chop-Suey de seja o que for vai cair bem, assim com a galinha com amêndoas (frita ou salteada, eu prefiro a primeira, o meu Vicente aposta sempre na segunda…) ou a simples Vaca com molho de ostras. Sejam estes ou outros semelhantes do cardápio habitual no chinês/tuga dificilmente será traído pela cozinha da casa.
Se é amante de pato à Pequim e gosta de passar sempre por esta iguaria, aí sim, recomenda-se o pato lacado. Isto já não há em todo o lado e no Nova Ásia é mesmo bem feito. Não sabe do que falo? Olhe, se fosse leitão era à Bairrada? Percebe agora o que digo? Despertou-lhe a atenção. Pois, trata-se de um pato assado e com uma pele tão estaladiça como a do bicho porco mas mais requintada. Gostos não se discutem e eu que sou fã de leitão, também não digo que não, pelo contrário, a um pato lacado. Há em forma de pato inteiro ou meio. A dose mais pequena chega bem para duas pessoas, desde que venha o arroz chao-chao, aqui fresco e soltinho como poucos.
Nas sobremesas não consigo recomendar nada. Não sou fã do género. Os meus filhos atacam as líchias e as maça pá-si como se não houvesse amanhã. Nunca se queixaram. Serve como dica?
Mais a sério. Gosta desta comida chinesa aldrabada, mesmo que a veja como um guilty pleasure? Então não hesite. Aqui é mesmo boa e terá de se esforçar para gastar muito dinheiro. Sem vinho come muito facilmente abaixo dos 10 euros. Já se gosta de bons néctares, não risque o Nova Ásia da lista. Há poucos chineses com uma lista melhor. E não pense que é um local só para pelintras. Durão Barroso aprecia o pato lacado e Sílvio, lateral do Benfica e internacional português, também passa por lá para trincar estas iguarias. Experimente. Eu, confesso, passo lá pelo menos uma vez por mês… B.R.

Nova Ásia
Avenida da Igreja, 41 A
1700-233 Lisboa
Multibanco, Visa e Mastercard
Preço médio: 15 euros
Encerra à segunda feira

Notas
Qualidade da refeição: 4
Serviço: 3
Preço: 4