terça-feira, 8 de abril de 2014

Bilhete para o paraíso


Olhó o nosso Milhano em Barcelona!!!
Não é fácil chegar ao “Tickets”. E não é por ficar em Barcelona ou escondido numa ruela qualquer. Hoje, ir a Espanha, não sai muito caro, graças às viagens low cost, e o restaurante em questão também fica numa das principais artérias da cidade, a Avenida Paral-lel. O que é difícil é reservar mesa, ou não fosse este um dos estabelecimentos de Ferrán Adriá – em parceria com o irmão Albert e com a família Iglesias, donos do “Rias de Galícia”. Adriá, como se sabe, é o chef que reinventou a gastronomia com o seu “El Bulli”, eleito, durante anos, o melhor restaurante do mundo antes de fechar portas e “transformar-se” numa fundação. Ao “El Bulli” nunca fui, mas li e vi tudo sobre ele – uma vez fiz mesmo o sinuoso percurso entre Roses e a bela praia de Montjoi só para dizer que estive à porta daquele templo gourmet –, mas ao “Tickets” já ninguém me tira a experiência de lá ter entrado. E comido, claro.
Como dizia, é difícil reservar mesa neste “Tickets”. Mas não impossível (como quase era no “El Bulli”). Basta estar atento ao site (www.ticketsbar.es/web/#reservas) e visitá-lo com uns 60 dias de antecedência (!) em relação à data pretendida. É que, diariamente, à meia-noite (23h00 em Portugal continental), abrem vagas para daí a dois meses. Depois é preencher os espaços com nome e contacto e assinalar a hora a que se tenciona almoçar ou jantar. Caso tudo esteja em ordem, há-de receber um mail a confirmar a reserva. E pronto, agora é esperar que chegue o ansiado dia. Quando o meu chegou, lá estava à porta, acompanhado da minha companheira de aventuras. Pontuais, para não perdermos pitada.
Um aspecto do balcão do Tickets
Entrámos e pediram-nos para esperar num pequeno hall, onde bebemos uma bela caña e onde fomos imediatamente abordados por um figurão que por ali se encontrava e dizia ser amigo dos donos. E devia ser verdade, pois os camareiros tratavam-no com todos os salamaleques. Senhor para os seus 60 anos, apresentou-se como andaluz, catalão de coração e amigo de Portugal, onde, disse, chegou a sagrar-se vice-campeão mundial de pesca. Muito simpático, desfiou um rol de histórias que nos deixou totalmente à vontade. Minutos depois fomos conduzidos ao nosso lugar, num balcão com vista para a cozinha e para uma composição de bonecos da “Playmobil”...
O “Tickets”, como dizem os espanhóis, é toda uma experiência. Os irmãos Adriá transformaram o espaço numa espécie de foyer de um cinema, com recantos distintos, para tudo amplificar. “A gastronomia é uma forma divertida de comer que converte quem participa num intérprete de uma obra de teatro, de uma revista de coristas...”, escrevem numa nota de apresentação. E da teoria passam à prática, pois “Tickets” apesar de pertencer a quem pertence, apesar dos preços, é descomplexado, descontraído e divertido. Não há cá dress codes, nem formalidades.
Mas vamos ao que ali nos levou, a comida. O “Tickets” é um restaurante de tapas, embora os Adriá não gostem do termo. Bem, na verdade, têm razão, pois o que fazem são muito mais do que tapas, são pequenos pratos gourmet. Os mais experientes escolhem à carta, mas eu, que nunca ali tinha estado, quis que me servissem um menu com o que de melhor estavam a preparar naquele dia. Feitas as contas, foram 12 (!) os petiscos que me chegaram à mesa, uns mais divertidos que outros, uns mais diferentes, outros mais banais, mas todos excelentemente confecionados. Um prazer.

Antes de experimentar cada uma das propostas, fiz a figura ridícula do turista que tira fotos aos pratos. Mas tenho a desculpa de ter este blog e de estar a servir quem aqui vem. Como este post já vai longo – ainda por cima com a certeza de ter ficado muito por desvendar – cá vai o resultado das fotos, para que se fique com uma ideia do que esperar no “Tickets”, até porque as imagens, neste caso, valem mesmo mais do que mil palavras. É que decifrar cada um dos pratos exigia conhecimentos obtidos num qualquer estágio no “El Bulli”.

Mas vamos às imagens...


Tudo começou com duas duplas de azeitonas, uma “gordial” e outra “verdial”. Azeitonas que explodem na boca, com sabor às mesmas, mas com toques geniais

Seguiram-se as anchovas, acompanhadas de mozarella e pequenos tomates

O terceiro prato continha mini “airbags” recheados com espuma de queijo manchego
Foi a vez do “mollete” trufado, uma espécie de pãozinho quente com recheio e sabor a trufa
Aqui estão umas alcachofras, com gema de ovo de codorniz e ovas de salmão
Eis a “Viagem Nórdica”. Carne de vaca marinada, com chalotas e queijo sobre fatias de pão de malta
Para refrescar, vieram 6 ostras, cada par com um sabor diferente devido aos molhos, uns mais intensos do que os outros, mas todos fenomenais
Não parece mas é tártaro de atum. Ali pelo meio estão umas cerejas
Os canivetes. Parecem inteiros, mas cada um está dividido ao meio e cada metade tem o seu sabor
Foie gras em escabeche
E isto parece spaghetti. Mas não. São cogumelos cortados muito fininhos, precisamente para imitar o esparguete. Acompanha com queijo para polvilhar
Ainda com fome? Então cá vai o prato mais “normal”. Uma bela perdiz, com molho alioli e ervilhas “reduzidas”
Finalmente, só para provar os doces, veio um bolo (?) de chocolate, com recheio de chocolate e molho de... chocolate. Ah, e com folhas de ouro a decorar!


Em suma, “Tickets” não é o “El Bulli” – talvez o mais parecido com o famoso restaurante de Roses seja outro dos projetos dos irmãos Adriá, mesmo ao lado do “Tickets”, chamado “41º Experience” –, mas não deixa de ser uma experiência sensorial ímpar e imperdível para o verdadeiro gourmet. Pelo menos uma vez na vida. L.M.

“Tickets”
Avinguda Paral-lel, 164
08015 Barcelona
Telefone: Parece que não tem e mesmo que tivesse só trata das reservas pelo site (ver em cima)
Cartões: Aceita
Preço médio: Entre os 40 e os 100 euros
Aberto nas datas indicadas no site (almoço e jantar)
Estacionamento: Público

Notas (1 a 5)
Qualidade da refeição: 5
Serviço: 5
Preço: 2

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Trás-os-Montes em Oeiras

Uma bela pinga de... Freixo de Espada à cinta
Imaginem a sala com poucas mesas, que no total alojam 20 pessoas, ao fundo o balcão e atrás dele, numa das laterais, a grande grelha. O espaço não pode ser mais despretensioso, mas as referências à qualidade da oferta e aos preços módicos encorajaram uma expedição gastronómica à rua onde fica o Tribunal de Oeiras - ultimamente muito visto na televisão por causa de criminosos “bem”, tias e tios desavindos, e outros aprendizes de feiticeiro -, para provar a posta mirandesa que os transmontanos da Grelha da Barra ali preparam e servem.
O ambiente é descontraidíssimo, a carta não engana: estamos numa casa de grelhados onde a carne é rainha. Veio a posta mirandesa para duas pessoas (16 euros), pois claro. A dita cuja era alta q.b., chegou no ponto e deu-se a deliciar à visão. Não se tratava de matéria de aviário. Acompanhada de batatas fritas às rodelas confecionadas na casa, a posta passou na prova com nota alta.

Na mesa ao lado fez-se notar particularmente o ânimo do grupo que se debatia com um petisco “fora de carta”. De que se tratava? Veio o empregado e explicou tratar-se do “butelo”, uma especialidade de Trás-os-Montes, feita com chouriço de ossos, batatas e “cascas”, que mais não são do que as vagens das ervilhas, secas, entretanto postas de molho e posteriormente cozidas com os restantes ingredientes. A “coisa” mete-se pelos olhos dentro, mas só é feita por encomenda, conforme nos explicaram. “Ah, pois…” – as nossas reticências foram bem entendidas pelo pessoal da Grelha e no final da luta com a posta mirandesa lá veio um pratinho de butelo para prova. Bom, bom… mas é óbvio que tem de se aprender a dele gostar.
A acompanhar fomos bebendo “Monte Ermos”, um tinto de Freixo de Espada à Cinta - é incrível como em Portugal se vai fazendo bom vinho em todo o lado, inclusive na terra mais parodiada do pedaço!
Custo total da aventura para dois expedicionários: 22,50 euros. Estão certas novas visitas, em particular uma agendada com dois dias de antecedência – condição obrigatória - para um butelo. Oh, oh! A.V.

GRELHA DA BARRA

Rua Afonso Paiva, 3
2780-265 Oeiras
Telefone – 214403026
Telemóvel – 934385171
Cartões – aceita
Estacionamento – público (pago até às 20 horas)
Encerra domingos e segundas, só ao jantar
Preço médio: 15 euros

Notas
Qualidade da refeição: 4
Serviço: 4
Preço: 4